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Argentina - Economia paralela ou informal - a `troca - verdadeira Economia.

27/02/2002 Argentina - Economia paralela ou informal - a `troca - verdadeira Economia

Sem alarde, os ´créditos´ dominam os negócios Nos ´Clubes del Trueque´ todos compram, vendem e trocam mercadorias Na Argentina da recessão e dos pesos e dólares presos no "corralito", cerca 2,5 milhões de cidadãos continuaram a comprar alimentos, roupas, utensílios para casa e a pagar serviços de eletricistas, cabeleireiros e até impostos, como se não houvesse crise. Para essas aquisições, os pesos não têm valor. Tampouco os dólares. O que vale são as notas amarelinhas, batizadas como "créditos", emitidas por um grupo que fundou, há sete anos, a "Red Global del Trueque".

"Trueque" quer dizer troca ou escambo. Prática que, no final das contas, embasa todas as operações de compra e venda que se desenvolvem em diversos pontos de Buenos Aires e do restante do país. Atualmente, cerca de 4.500 núcleos se revezam diariamente nessa atividade. Reúnem quem estiver interessado em trazer produtos ou oferecer serviços - desde que não tenham origem ilícita - em galpões, casas paroquiais ou escolas. São conhecidos como "Clubes del Trueque".

Ali, a regra que vale é a da oferta e da demanda. Cada participante expõe a mercadoria, estipula um preço e negocia com o freguês, que efetua o pagamento com os créditos. O comerciante, por sua vez, aplica os mesmos créditos na compra - sempre à vista - de mercadorias, nesse ou em outros núcleos. Pode ainda consultar os guias mensais, vendidos a 0,50 crédito, onde está impressa a agenda diária dessas feiras e o anúncio de profissionais que aceitam a nova moeda - dentistas, massagistas, cabeleiros, encanadores. Também são oferecidos cursos profissionalizantes, para a produção orgânica de alimentos, reciclagem de resíduos e marketing.

Logo ao se inscrever, cada participante recebe um empréstimo de 50 créditos para as primeiras compras. A regra máxima impede a discriminação de pessoas.

Depois, o estreante segue no processo de compra e venda de bens e de serviços. Ao deixar o grupo, paga os 50 créditos recebidos, sem juros nem correções. Não vale a pena acumular: a moeda perde 1% do valor a cada mês. A cada ano, os intercâmbios alcançam de 400 milhões a 600 milhões de créditos, nos cálculos dos organizadores.

"Criamos uma moeda oxidável, que só serve como ferramenta de trabalho e para circular. Em um país tão desprolixo com sua moeda, como é a Argentina, esse dinheiro pode ser aplicado em épocas de recessão ou de hiperinflação sem problemas", afirmou Rúben Ravera, museólogo e ecologista que se tornou um dos pais da idéia. "Hoje, o Club del Trueque é o único canal existente de reativação da economia argentina."

Propagação - De fato, o trueque converteu-se também em meio de os municípios argentinos arrecadarem impostos e taxas que seriam sonegados, se o pagamento fosse exigido em pesos. A Prefeitura de Quilmes, na Grande Buenos Aires, recolhe mensalmente cerca de 100 mil créditos. No ano passado, o governador da Província de Santa Fé, o ex-piloto de Fórmula 1 Carlos Reutmann, autorizou as prefeituras a arrecadarem em créditos - o que facilitou a vida de produtores rurais.

Ravera calcula que, até o final deste ano, 7 milhões de argentinos estarão envolvidos nessas trocas - 19% da população do país. O programa, que começou com pessoas de extratos sociais mais carentes, acabou se estendendo à classe média argentina, dilapidada pelo desemprego e pelo confisco das economias, no início de dezembro do ano passado. Claudia Basalo, de 36 anos, encontrou um meio de prosseguir com sua atividade formal, a representação e venda de relógios, jóias e acessórios, por conta do "Club del Trueque".

No ano passado, a atividade dela foi minguando até que as vendas se anularam. Desde dezembro, ela acompanha o pai e a madrasta nos núcleos.

Moradora da Chacarita, bairro de classe média baixa de Buenos Aires, Claudia busca os núcleos onde vivem pessoas de maior poder aquisitivo, como o de Belgrano. "Vendemos muito agora po